Comunicação com Monstros

Por Daniel Spinelli – Sócio e Facilitador da maisPS

Outro dia, conversei com um amigo que me contou sobre as dificuldades de comunicação que estava tendo com um funcionário. É uma história interessante, pois vemos se repetindo no dia a dia de muitas interações humanas no contexto organizacional. Na verdade também em outras áreas da vida, mas vamos focar aqui no ambiente de trabalho.

Bom, vamos ao caso do meu amigo, que vou apelidar aqui de “João”. As coisas tinham início no fato de seu funcionário demorar em entregar alguns de seus pedidos, outras vezes esquecia-se dos mesmos. Na correria do dia a dia, João me disse que preferiu apenas manter uma cobrança mais rígida e que, devido à forte correria, não tem tido tempo para reuniões de feedback. Além disso, ele me contou que já tinha concluído que seu funcionário estava fazendo isso de propósito e que possivelmente tinha algum plano de sabotá-lo para prejudicar seu relacionamento com seu superior. Detalhe, o relacionamento do João com seu próprio chefe estava também em conflito, pois os tais atrasos estavam prejudicando processos importantes no setor. Quando perguntei ao João como estava o relacionamento dele com seu funcionário, a resposta, como já era de se esperar, foi que estava ruim e conflituoso. A cada novo atraso aumentava um sentimento ruim que confirmavam suas suspeitas de que essa pessoa estava agindo com desprezo e desrespeitando sua liderança. Então, ele me contou sobre como estava reagindo a isso: com imposição da liderança pela força, sendo mais agressivo, rígido, e atuando para colocar cada um no seu “devido lugar”.

Essa triste história pode parecer rara, ou difícil de acontecer para quem vê de fora. Mas, se observarmos a nossa volta, perceberemos o quanto as relações interpessoais nas empresas têm sido feitas cheias de projeções e avançam carregadas de mal-entendidos. E pior, os mal-entendidos vão se tornando “verdades”.

Essa história me fez lembrar a letra “Será” da Legião Urbana, banda da qual sou fã. Cito aqui uma parte da letra que me fez sentido, mas sugiro ouvir a música inteira sob esse contexto.
“Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação?
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração”

Deixo aqui a mesma provocação que fiz ao João. Estamos perdidos entre monstros que estamos criando? Estamos nos relacionando com “monstros” ou com pessoas? “Será que é só imaginação?” Como posso utilizar a comunicação como ferramenta para melhorar a qualidade das minhas interações humanas e deixá-las mais saudáveis e produtivas?

Para não deixar a história do João assim aberta, após nossa produtiva reflexão (rendeu um post para o blog e teve até trilha sonora) ele levou algumas anotações, as quais me autorizou a compartilhar com os leitores das minhas publicações: “Sentar para conversar, alinhar expectativas, trocar feedbacks, focar em objetivos comuns, não desperdiçar energia e ser feliz”.

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