Manual de Sobrevivência para Tempos Difíceis

Por Daniel Spinelli – Diretor e Consultor da PS

2018 foi para mim, sem dúvidas, o ano mais desafiador que já tive. Nunca antes a vida tinha me testado de tantas formas e intensidades diferentes. Percebi também que tinha sido um ano muito difícil (de formas diferentes) para a maioria das pessoas que eu encontrava. Decidi então usar minhas redes para fazer uma pesquisa perguntando: “O que foi 2018 para você?”
O que eu buscava era saber como as pessoas estavam olhando para suas dificuldades e lidando com elas. Para minha grata surpresa, as respostas que recebi da pesquisa que eu fiz trouxeram belas pérolas, que me inspiraram a escrever esse artigo. Uma verdadeira lição de vida para ser aplicada em tempos e situações diferentes, um “Manual de Sobrevivência para Tempos Difíceis”, do qual eu concedo os créditos a todos aqueles que participaram da pesquisa. Pode mudar uma vida, aproveite:

 

Respostas que descreveram o tamanho do desafio:

Ultramaratona

Tsunami

Antagônico (intenso na felicidade e na dor)

Complexidade, perda e intensos desafios no mais amplo sentindo

Acho interessante aqui o quão importante é a gente identificar onde estamos pisando, olhar com lucidez para o cenário, como foi feito nas palavras acima. Às vezes focamos demais em dizer para nós mesmos que damos conta de tudo, que podemos superar qualquer coisa, adotamos uma atitude supermotivacional e acabamos com isso perdendo um pouco (ou bastante) do senso de onde estamos pisando. A realidade é que, se você se percebe numa ultramaratona ou num Tsunami, você precisa agir e se preparar de acordo.

Tenho notado que aprendem e crescem mais em tempos difíceis aqueles que são capazes de perceber a criticidade do momento, olhar e identificar suas próprias vulnerabilidades e usar a sabedoria (e não necessariamente só a motivação) para lidar com isso.

Quando eu percebi que, no primeiro semestre, de repente se formou uma “tempestade perfeita” em cima de mim, com vários fatores críticos acontecendo ao mesmo tempo, eu notei que, se eu não reorganizasse totalmente meus hábitos, eu teria grandes chances de entrar em colapso ou até mesmo cair doente.

 

Respostas que descreveram o trabalho intrapessoal que foi feito diante do desafio:

 “Olhar pra dentro, deixar minha essência fluir… Conhecer e aceitar as minhas vulnerabilidades, respeitar a natureza cíclica feminina, ser autêntica e fazer minhas perguntas, mesmo que muitas não tenham respostas…”

Autorresponsabilidade

“Eu quis ser desafiada”

Mudança, sair da zona de conforto

Paciência

Coerência

Autoconhecimento, reconexão consigo mesmo, Integridade

Valorização das coisas e dos momentos mais simples… Ano da Paciência

Achei interessante quantas pessoas citaram autoconhecimento ou mencionaram que fizeram algum tipo de trabalho interno. Definitivamente, olhar para dentro com sinceridade e com autocompaixão faz toda a diferença para quem está passando por uma turbulência na vida. As armadilhas de ignorar o processo interno é o autoengano ou a autodesqualificação, e essas duas armadilhas podem parecer facilitar as coisas num primeiro olhar, mas, no decorrer dos acontecimentos, são grandes sabotadores do seu potencial. Lembre-se de que a primeira pessoa que você conta para te dar bons feedbacks, incentivo, apoio e cuidados é você mesmo. Seja sempre a melhor amizade de você mesmo.

Uma das decisões difíceis que tive que tomar esse ano foi relativa à minha prática de meditação.  Devido à extrema demanda de agenda, eu fui tentado a cortar a prática para ganhar tempo. Hoje sou grato por não ter feito isso, reduzi um pouco a duração e a frequência, mas procurei compensar no ganho de qualidade e a me inspirar na motivação de que seria mais difícil de navegar se eu estivesse vendo tudo nublado na minha frente. Especialmente no meu caso, em que outras pessoas dependiam da qualidade da minha visão.

 

Respostas que descreveram o que foi feito diante do desafio:

Coragem para enfrentar o novo 

Resiliência

Tenacidade

Escolhas e decisões

Dedicação

Rebeldia para sobreviver

Verdade, na maioria das vezes as coisas não são do jeito que a gente quer, porém, quanto mais tempo eu levo lamentando ou fingindo que aquilo não está ali, mais eu adio o que precisa ser feito e principalmente a oportunidade de aprender com isso. A palavra resiliência foi a mais mencionada nos comentários depois de “desafio”. Percebi que a qualidade da resiliência em tempos difíceis deve ser praticada para que possamos atuar de forma plena, com clareza mental e com acesso aos principais recursos pessoais. A melhor forma de agir, de forma menos automática e mais consciente.

Nesse sentido, os desafios podem servir para nos dar uma capacidade progressiva de nos mantermos centrados e com um nível mínimo de tranquilidade necessário para que possamos aumentar nossas próprias chances de sermos assertivos em decisões, ações e respostas.

Eu faço uma comparação com esses surfistas de ondas grandes. No mesmo cenário, uma pessoa despreparada se mataria pelo próprio apavoramento. Esses profissionais são capazes de economizar sua energia, se manter tranquilos e tomar as decisões e atitudes corretas para se manterem serenos e vivos em situações nas quais a maioria das pessoas morreria. Eles são capazes de fazer o que tem que ser feito, sem demora e com um alto nível de qualidade.

 

O que levamos …

Devemos ser a mudança que queremos

Recomeço

Impermanência

Desapego

Aprendizado profundo, resignificando propósitos……

Sim , tiveram vários comentários que já mencionavam o que está se levando de 2018. Eu aprendo com isso que as pessoas que sobrevivem e superam tempos difíceis são aquelas que aprendem com as situações, são capazes de mudar e de recomeçar. Tempos difíceis muitas vezes trazem perdas, a consciência da impermanência é uma qualidade fundamental para não ficarmos apegados e podermos ter a sabedoria de seguir em frente.

Note que a palavra “aprendizado” aqui foi adjetivada com o “profundo”, ou seja, não é só algo que eu vou postar no insta junto com uma selfie, é algo que eu permito remoldar no meu ser, melhorar quem eu sou. No fim, sou eu mesmo que forjo minha própria evolução.

Eu aprendo que controlo muito pouco do que está a minha volta, eu tenho mais chances de transformar a mim mesmo, e a partir daí todo o resto muda automaticamente, pois minha visão mudou.

 

E para terminar (ou continuar) …  

“Gratidão pela vida e por chegar até aqui…”

Achei lindo quantas vezes a palavra “gratidão” apareceu. Essa frase acima foi escrita por uma pessoa querida e grande profissional da área de RH. Em 2018, ela teve um grande desafio na própria saúde, um grave problema na família no qual precisou ajudar pessoalmente e perdeu a mãe no meio do ano. Sem citar os grandes desafios profissionais que envolveram inclusive viagens internacionais. Só de ler essa frase dessa pessoa já teria feito valer a pena produzir esse artigo.

Sim, podemos e devemos ser gratos mesmo pelos tempos difíceis, pelas perdas e pelo que não deu certo. Essa me parece ser uma forma muita sábia de olhar para a vida com mais humanidade e senso de realidade. O que faz a vida valer a pena não são as coisas que dão certo, o que faz a vida valer a pena é o quanto podemos continuar nossa evolução a partir de tudo o que acontece conosco.

Desejo que você esteja cultivando a gratidão e os aprendizados por tudo o que te aconteceu em 2018 e que este seja o seu forno interno para preparar o que você vai servir para tudo e todos que vierem a te encontrar em 2019: o que há de melhor em você.

Minha profunda gratidão a todos os amigos que, com seus comentários, me ajudaram a crescer e aprender escrevendo esse texto.

“Ontem é história, amanhã é mistério, hoje é uma dádiva de Deus, por isso o chamamos de presente.” (Bill Keane)

 

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