Não fazem mais máquinas de escrever como antigamente. Ainda bem

Tudo tem um ciclo. Inclusive as carreiras. Longo ou curto, depende só de você e de como você vai liderar a si mesmo.

Era 26 de abril de 2011 quando aquela chave girou pela última vez. Por anos, ela permitiu acesso à linha de produção da Godrej and Boyc, uma gigante em seu tempo. A empresa tinha concorrentes de peso como a IBM, que saiu antes do mercado. E saiu por um motivo simples: não havia mais mercado. As máquinas de escrever ainda resistiriam por um tempo na Índia, onde eram comuns. Mas mesmo lá, seu tempo acabou. O ciclo terminou não por falta de qualidade nos equipamentos, nem por escassez de matéria prima. O que houve, afinal, já que as fábricas garantiam opções para todas as necessidades? Haviam as manuais, muito confiáveis. E – sensação das sensações – as elétricas com corretivo automático. Depois viriam as elétricas portáteis, que pesavam uns 8 quilos, um “luxo inigualável”, afirmava sua pouco inspirada publicidade.

Foi em uma máquina de escrever que Hemingway escreveu “O velho e o Mar”, mas nem os autores famosos as salvariam. Não fizeram isso porque não podiam: elas ficaram obsoletas, desnecessárias, ultrapassadas, é a vida que segue.

Algumas fábricas (olha a IBM outra vez) se reinventaram e estão aí, na luta. Com as carreiras e seus profissionais acontece a mesma coisa, todos os dias. Alguns deixam de ser necessários. Isso não acontece pela idade: o técnico vencedor da Copa dos Campeões tem 70 anos e  Peter Drucker, o guru de todos os gurus da administração, está firme e forte aos 89 anos.  O declínio (e mesmo o desaparecimento) ocorre quando deixamos o entusiasmo de lado, abandonamos a curiosidade sobre os dias que alcançam a todos, ou simplesmente achamos que sabemos de tudo. Carreiras terminam não por falta de oportunidade, ou por que há uma crise (a Bic foi criada no meio de um furacão econômico). As carreiras terminam como terminam os relacionamentos: por falta de paixão e entrega. É possível ter uma  jornada profissional longa e feliz, fazendo o que se gosta ou gostando do que se faz. Mas é fundamental ter em mente as lições das máquinas de escrever. Cada um de nós pode ser uma nova invenção diária ou alguém previsível e desinteressante. Ninguém acorda ultrapassado, é algo que se não desaparece nos primeiros sintomas, temos que procurar uma reciclagem, rever processos, projetos e as habilidades do sujeito com o nosso nome. Considere que treinamento, curiosidade, renovação, vontade e potenciais constantemente desenvolvidos são antídotos eficazes contra as fadigas profissionais. Coloque-se em estado permanente de obras, de renovação, de conexão com as novidades, seja você mesmo uma delas. Tenha em mente que a idade da pedra não acabou por falta de pedras, mas por falta de imaginação.

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