Facilitando treinamentos em tempos de Google. O que muda?

Por Daniel Spinelli (Diretor e facilitador da PS Treinamento)

“Inteligência é o que você usa quando não sabe o que fazer”
Jean Piaget

Você já parou para refletir sobre como as mudanças pelas quais estamos passando estão impactando a forma como as pessoas aprendem?
Não muitos anos atrás, as pessoas dependiam de professores, consultores, palestrantes e livros para ter acesso ao conhecimento. Com isso, até pouco tempo a sala de aula tinha um papel diferente do que tem hoje: os participantes tinham uma expectativa de acesso ao conhecimento. O papel do facilitador era de prover conhecimento, deveria ser alguém que dominava o conteúdo e a origem do mesmo. O programa de aula tinha uma linha específica para atender às expectativas de aprendizagem dos alunos e vinha ao encontro das habilidades de ensino dos facilitadores.

Mas, então, o que aconteceu?

Em poucos anos entrou uma verdadeira revolução no acesso ao conhecimento. Hoje, qualquer pessoa com acesso à internet é capaz de assistir aulas de mestres de cada assunto. Youtube, TED, blogs, wikipedia, podcasts, entre tantas outras ferramentas transbordam conteúdos dos mais diversos. Em poucas horas uma pessoa pode aprender muito sobre qualquer assunto que desejar, acessando instantaneamente o que há de mais moderno sendo discutido sobre temas diversos.

Armadilha

A maior armadilha que percebo é a lentidão na adaptação a essa nova realidade por parte de quem se propõe a prover aprendizagem presencial, sejam organizações ou facilitadores. Quantas salas de aula ao redor mundo estão em um universo de faz de conta só porque estão acostumadas com o fato de ter sido sempre assim.

Até mesmo o mercado de eventos de negócios já está sendo profundamente impactado por essas mudanças, afinal, por que eu deveria viajar e gastar meu dinheiro para participar de um evento cheio de pessoas disputando minha atenção para ver coisas que estão facilmente disponíveis na internet? Eu mesmo já deixei de ir a vários eventos depois que tive acesso aos nomes dos palestrantes e à lista de expositores.
A pergunta-chave agora é: “para que eu deveria ir até o seu curso, treinamento ou evento? O que eu terei lá de diferente que eu já não vou acessar via internet?”

Reflexão

Tenho vários aprendizados sobre esse assunto, com base nas contínuas revisões nos formatos de experiência de aprendizagem que tenho trabalhado nos últimos anos. Essas novas formas de desenhar programas de aprendizagem e atuar em sala partem de alguns princípios importantes:

Princípio 1: Com quem o participante aprende

O participante não aprende mais com o facilitador. Ele pode aprender com suas próprias pesquisas e experiências. Ele pode aprender com seus colegas e com as principais referências de um assunto. Mas nem por isso o facilitador deixa de ser importante no processo, desde que saiba se reposicionar para facilitar esses novos métodos.

Princípio 2: Como o participante aprende

Certamente não é mais sentado ouvindo uma aula tradicional com slides do power point. Ele cada vez mais aprende como protagonista no processo, de forma ativa. Aprende fazendo, pesquisando, debatendo e confrontando ideias. O facilitador que insistir em dar uma aula convencional corre o risco de perder a atenção dos participantes.

Princípio 3: A arte de sair da cena

Sim, o holofote não é mais no mestre. Mestre agora é quem sabe continuar facilitando e liderando uma sala de aula sem estar no centro das atenções. Esse princípio eu considero o mais desafiador, pois lida com o ego do educador. Sem um processo de autoconhecimento e ganho de autoconfiança, acho difícil esse passo ser dado. Já estive com diversos facilitadores que têm uma grande dificuldade nesse ponto e quase sempre a minha recomendação é: “trabalhe seu próprio desenvolvimento antes de mais nada”.

Princípio 4: O que apenas um evento presencial oferece e como potencializar isso?

Para cada situação e objetivo de aprendizagem essa resposta muda, mas uma coisa é certa: essa pergunta te ajudará tremendamente a sair do lugar comum e a prover experiências de aprendizagem significativas e diferenciadas. Afinal de contas, você quer que as pessoas saiam do seu curso ou treinamento com a clara percepção de que valeu a pena e de que nenhuma experiência digital teria sido capaz de proporcionar o que acabou de experienciar.

Os feedbacks que tenho recebido sempre que coloco em prática os princípios acima são de que valeu muito a pena ter participado, a aplicação pós-sala de aula é muito alta e a percepção das pessoas é de que o tempo de sala voou.
Claro que em cada um desses princípios poderíamos nos dedicar de forma mais aprofundada, e digo que se você trabalha com treinamento e desenvolvimento isso é uma necessidade.
Meu convite é que você não perca a oportunidade de confrontar cada um desses princípios com a forma como facilita hoje.

“A evolução do indivíduo é a evolução da sua consciência”
George Gurdjieff

Sucesso e boas facilitações!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×